amores expresos, blog DO CUENCA

Monday, April 30, 2007

Shinjuku e Kabukicho

28.04.2007

Nos últimos dias, por motivos diversos, tive especial dificuldade em registrar minhas andanças pela cidade.

Agora estou num bairro diferente, Shinjuku. Tenho a impressão que é a gigantesca downtown de Tóquio. Com duas partes bem diferentes, no entanto.

A oeste, estão os prédios da prefeitura, arranha-céus de conglomerados japoneses com nomes como Mitsui, Mitsubaro ou Mitsubishi, e hotéis como o Park Hyatt e suas três pirâmides iluminadas. Os prédios se debruçam sobre um parque onde moleques andam de skate e monges são monges dentro de um templo xintoísta.



Nessa parte, as calçadas são muito largas e as construções guardam uma saudável distância umas das outras. Se já é surreal pela arquitetura (a prefeitura parece uma catedral cubista de trezentos metros de altura), o lugar ainda vive vazio e parece morto, inclusive durante a semana. Até você descobrir que por baixo de todo o mármore e granito existem enormes passarelas subterrâneas com esteiras automáticas, shopping-centers e tudo o mais. E a maioria das pessoas prefere andar por baixo da terra.

Aqui você pode andar horas sem ver a luz do dia. A cidade está cheia desses espaços de convivência que unem os subsolos dos prédios a galerias comerciais, estações de trem e metrô, praças de alimentação etc. De onde estou, ando por esse subterrâneo em esteiras rolantes por um quilômetro ou dois até a monstruosa estação de Shinjuku que, com mais de duzentas saídas, mastiga e regurgita diariamente mais de três milhões de seres humanos. É a maior do Japão.

Pegar a saída errada normalmente significa estar (bastante) perdido. Caminhar ali dentro é um teste para os sentidos. De orientação e defesa, porque além de se localizar, você precisa desviar o seu corpo dos outros.

Do outro lado da estação, ao leste, fica a parte mais convencional do bairro – é estranho usar essa palavra para definir qualquer coisa aqui.

Avenidas com toneladas de anúncios em néon, becos estreitos com antigos botecos vendendo Yakitori (espetinho japonês), shoppings de eletrônicos, casinos de patchinko, prédios da Sega, Taito, karaokê e tudo o mais. E milhões de “salary-men” e “office-ladys” ocupando as calçadas ferozmente.

Não há nada remotamente parecido à luz da noite num lugar desses porque nunca fica realmente noite. O néon em movimento ilumina tudo e o rosto das pessoas é iluminado como que por fogos de artifício.

Se você pegar uma quebrada à esquerda, notará uma diferença nada sutil na paisagem: Kabukicho.

Kabukicho é para o sexo o que Akihabara é para eletrônicos: o centro do comércio. Controlado pela Yakusa e tido pelos japoneses como o lugar mais perigoso do Japão, o bairro oferece todo o tipo de opção: casas de banho, striptease, peep shows, clubes de encontro, hostess bars, teatros eróticos, casas de chá onde moças servem seus clientes sem calcinha (e com espelhos no chão) e por aí vai. Há desde lugares sofisticadíssimos em prédios imponentes, cuja entrada pode custar 200 dólares, até uns buracos com portinhas estreitas de paredes descascadas do tipo “pague para entrar e reze para sair”.

Há também uma profusão de motéis em ruas estreitas, onde casais embriagados entram e saem a pé a qualquer hora da noite ou do dia. Numa dessas ruas, ao lado de motéis com formato de castelo da disney e com cascata na porta, há um campo para a prática de beisebol, onde salary-men bêbados encaram máquinas que arremessam bolas em alta velocidade.

Comparado com qualquer lugar do gênero fora do Japão, Kabukicho é extremamente limpo. E seguro. A presença da Yakusa se nota pelos mercedes-benz pretos e, às vezes, por um senhor seguido por vários seguranças carecas entrando e saindo de algumas das casas. Todos vestindo ternos de três mil dólares e sapatos italianos. Bastante diferentes dos bicheiros e/ou traficantes com quem esbarro nas ruas do Rio.

De qualquer forma, o gaijin está fora de todo o comercio sexual. Com raras exceções – normalmente africanos convidando os turistas de além mar em inglês para arapucas três andares abaixo da calçada – os anúncios e convites feitos pelas ruas excluem o turista ocidental. Por dois motivos: incapacidade de se fazer entender e entender inglês, e medo que os estrangeiros contaminem as moças locais. Ao contrário de lugares como Copacabana, aqui o turista não é rei – muito pelo contrário. O mercado de sexo funciona com independência, alimentado pelo consumidor local.

***

Até agora, eu filmei mais do que fotografei a cidade. Mas a partir dessa semana, espero tirar mais fotos para colocá-las nesse espaço.