amores expresos, blog DO CUENCA

Sunday, June 17, 2007

A sombra

Recorrentemente, tenho pensamentos desse tipo: “agora em Tóquio é amanhã de manhã”, “agora em Tóquio anoiteceu”, “agora em Tóquio, o sinal da esquina no cruzamento na saída leste da estação de Shinjuku, na frente do telão do Alta Studio, fechou libertando a fúria dos pedestres, e no meio da multidão uma senhora abaixou para pegar um papel caído gerando um esbarrão de sacolas que foram ao chão”, “agora em Tóquio, é uma e meia da manhã e as portas se fecham nos elevadores da Dogenzaka Dori em Shibuya por trás das moças que perderam o trem”, etc etc etc - quase como se houvesse uma sombra minha percorrendo as esquinas da cidade enquanto estou aqui.

E há.

Saturday, June 9, 2007

David Foster Wallace falando sobre ser estrangeiro



Tungado do blog do Parada.

Wednesday, June 6, 2007

A chegada

O blog do Amílcar Bettega, que está em Istambul, já está no ar.

E estreou com um texto primoroso sobre os primeiros sentimentos que costumamos ter (ao menos, eu sinto da mesma forma) ao chegar numa cidade.

Quando o Amílcar escreve sobre a vertigem desses primeiros dias e na saudade que já tem deles, eu me identifico completamente. Sei que nunca mais vou me sentir tão impactado como quando desembarquei em Tóquio.

É uma melancolia estranha. Existe uma cidade que idealizei por mais de vinte anos, e que misturei à minha existência e aos meus olhos. Nunca mais enxergarei essa cidade com o temor e o encantamento dos nossos primeiros dias juntos. É como se já tivesse gasto uma ficha: Tóquio nunca mais será um lugar completamente misterioso e desconhecido para mim.

(Por mais que se estude e consulte mapas, a verdade é que as chegadas sempre representam certa destruição do imaginário adquirido sobre o lugar, como escreveu o Amílcar. A cidade, seus acasos e tentáculos se impõem sobre tudo e, assim que chego, costumo jogar os guias num canto para não mais consultá-los.)



Carrego a certeza absoluta do retorno, que será diferente: já conhecerei alguns dos seus caminhos. Minhas pernas não vão mais tremer, não gaguejarei, os nomes das suas partes não representarão mais enigmas ininteligíveis para mim. Haverá certo orgulho: sei andar por aqui. E, mesmo que ame a cidade, talvez fique algo blasé e faça pouco dela. Mas, se for a cidade certa (e eu imagino que Tóquio seja uma delas), inventará novas formas de me surpreender: ficaremos íntimos.

Mas nunca mais aquela vertigem...

Que me você me perdoe pela canastrice da minha conclusão, mas as cidades, meu caro Amílcar, são mulheres. Tóquio é uma mulher elegante e fria (embora subserviente, se você souber seus códigos), Paris é uma mulher linda e temperamental (histérica, vá lá), o Rio é uma mulher gostosa (de sorriso careado e cicatrizes por trás do vestido)...

Espero que Istambul, essa mulher que ainda desconheço, te abrace e acolha com seus becos, cheiros, rostos e palavras desconhecidas. E, quem sabe, não te cochiche alguns segredos à noite. No Japão, durante a madrugada, a cidade falava nos meus ouvidos. Voltei, mas ela continua: sonho todas as noites com Tóquio. Ou será que Tóquio, mulher-polvo, é que sonha comigo?

Como você vê, já me perdi nas minhas digressões... O importante é: boa viagem, Amílcar.

O tempo

Entrei num arranha-céu em Shinjuku procurando algo para comer num sábado desértico. Depois descobri que o prédio tinha o maior vão interno do mundo, que guardava o maior relógio d’água do planeta (ver vídeo abaixo). Típico da minha experiência japonesa: encontrar o que não se espera em caminhadas banais, esbarrar com o inusitado o tempo inteiro.